Somos todos TDAH?

ÉRICA MACHADO – PSICÓLOGA

 

 

Todo mundo sabe que o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade se trata de uma condição neurológica que afeta a capacidade de concentração, controle de impulsos e regulação do comportamento. O que trago ao foco é o considerável aumento de diagnósticos e prescrições de medicamentos para o TDAH, principalmente entre crianças e adolescentes, nos últimos anos.

 

O TDAH está na moda? O modo de vida atual contribui muito mais para o adoecimento mental do que para a saúde, e aqui estão alguns aspectos negativos da loucura a que estamos submetidos: o constante fluxo de informações sobrecarrega a mente, podendo elevar os níveis de ansiedade e estresse; a comparação ensejada pelas redes sociais pode impactar negativamente a autoestima.; a exposição prolongada à luz dos dispositivos eletrônicos pode dificultar o sono.

 

Os impactos dão-se tanto na mente como no comportamento das pessoas, que passam a buscar maneiras de recuperar o foco, a concentração, a produtividade e o bem-estar. Mas é aí que está: nem sempre os sintomas do TDAH se devem a uma condição neurológica, podendo advir, também, de questões culturais, do estilo de vida que vivemos. Afinal, que cérebro aguenta tanta informação e aceleração sem falhar? Nesse contexto, parecemos viver numa cultura do TDAH e da Ritalina, a metanfetamina tarja preta usada no tratamento, cujo uso indiscriminado pode apresentar riscos, no longo prazo, como reduzir o apetite e o sono e até gerar problemas cardiovasculares.

 

A epidemia de diagnósticos e do uso da Ritalina precisa ser discutida. É fundamental que a prescrição seja rigorosa, assim como seu acompanhamento, e que os critérios diagnósticos sejam mais seguros e precisos, a fim de evitar a excessiva patologização de comportamentos que estão coerentes com nosso sistema de vida. Este, sim, está doente.

 

A compreensão integral do indivíduo, um ser biopsicossocial, é condição sine qua non para evitar os excessos da medicalização e finalmente colocar o indivíduo no centro, capaz de dialogar com seu modo de vida e desenvolver estratégias de promoção de saúde física e mental, como fazer a higiene do sono, fazer regularmente atividades físicas, ter uma alimentação balanceada, cuidar do trabalho etc., antes de adotar qualquer outra medida. Do contrário, seremos uma sociedade aparentemente “normal” ou neurotípica, mas, na essência, padronizada, medicalizada de forma acrítica, dependente de substâncias e mantenedora do status quo.

 

SOBRE ÉRICA MACHADO – Psicóloga e supervisora clínica de orientação Jungiana